Já faz muito tempo
e nunca consegui esquecer
os fins de tardes maravilhosos,
que passei na minha juventude
e que me ajudaram a crescer.
Carreguei muita água em carote
Para, o reservatório de casa, encher.
Comigo, iam amigos, vizinhos,
com latas na cabeça, na época, era um dever.
Lá, a gente encontrava Barim,
Peito de Pomba, Anum Branco e Zabelê,
todos viviam de botar água nas casas,
pra depois de filtrada, beber.
Não existia água encanada
e nem por isto, acabava o prazer,
bastava pisar no areião dos dez,
que o sacrificio acabava, transformando em lazer.
Era gente pra todos os lados
e tendo sempre o que fazer,
roupas, ao longo do rio, lavavam,
carros sujos, em pouco tempo, limpavam,
da manhã ao anoitecer.
Os babas eram sagrados,
tinham seus lugares marcados no areião,
da turma do barro, ninguém ficava do lado,
eram todos amigos, mas, quando a bola rolava,
era só confusão.
Era um baba famoso,
com bola enrolada de cordão,
as faltas, só eram marcadas,
quando não era possível levantar do chão.
Na escolha dos times,
a pergunta era uma só:
o baba é com lambança ou sem lambança?
a resposta andava na ponta da língua,
com lambança, é melhor.
O nosso, era mais calmo,
o respeito, um pelo o outro, imperava,
nunca era um baba de moça,
é que nossa turma, a bola, ninguém maltratava.
Tudo era muito gostoso,
melhor, era quando o sol se escondia,
ninguém, do areião, arredava o pé,
esperando as meninas, que pra tomar banho,
o barranco do rio, descia.
Dentro d’água, era um corre-corre,
um verdadeiro salve-se quem puder,
de toca, ficava o mais mole,
sem sentir nem cheiro de mulher.
Quem encanarava,
corria pra o poço da gameleira,
na margem oposta ao areião.
Às vezes, tinha gente demais na pedra,
que tornava tudo capaz
e servia como testemunha de grande confusão.
O tempo passou depressa,
duvido que do areião dos dez,
quem, por lá, andou, um dia, vá esquecer
dos banhos no Rio de Contas, do poço da gameleira,
das ilustres professoras, sem dúvida, saudosas parceiras.
Éramos garotões,
mas não fazíamos besteira,
o bom, fora, não se jogava,
e pouco importava a vida alheia.
Nenhum de nós, hoje, se conforma,
vendo o areião dos dez, ser transformado em lixeira.