A seca este ano veio forte.
Toda noite passo horas no terreiro,
verificando se está ventando do norte.
Sem metereologia, é o meu sinal primeiro.
O capim já não se vê mais
a capoeira, cada vez mais seca ficando.
Dá pena ver os animais,
de magro, as costelas mostrando.
Verde, só o mandacaru,
que, sem os espinhos, dá , para os animais comerem.
Por perto, se escondem os jaracussus
guardiões, para não deixarem, os mandacarus sofrerem.
Fico horas e horas observando.
Às vezes , vou dormir de madrugada,
tristeza , é saber que nem do norte e
nem do sul está ventando,
tão cedo, vão encher as aguadas.
Duro, é ver meu boi sereno
e meu cavalinho alazão,
cada vez mais emagrecendo.
Chega a cortar meu coração.
Os passarinhos, não se ouve cantar.
Bateram asas e foram comer e beber no sul.
Aqui , só os que esperam, pelos os que a seca matar,
são os indesejáveis urubus.
Desta vez, não vai ter jeito moço,
a chuva, no céu, se esconde.
Quem está morrendo, só resta o coro e o osso,
nesta seca, até os urubus vão morrer de fome.
Esta é a vida no sertão
mas jamais eu saio de lá.
Não quero perder meu boi sereno e meu alazão,
pois quando chove , é com eles,
que eu conto pra trabalhar.
Quando a chuva molha este chão
fica difícil acreditar,
quem, do umbigo, aqui enterrou o seu cordão,
vai ter motivos pra esta terra abandonar.
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